Detalhe: No dia 12 de junho, meu marido estava
fazendo aniversário e nós estávamos no Rio de janeiro na casa da minha mãe.
Para minha surpresa, fizeram um churrasco para ele, durante o dia e um bolinho
à noite! Você já comeu pelo nariz? Naquele dia eu comi! Quando a gente não pode
comer, parece que dá mais vontade. Mas sabia de todos os riscos e nem saí da
cama. Só sentia o cheiro da carne na churrasqueira. Minha família é muito
festeira e tudo é motivo para um churrasco... kkk.
Lembro
que tomava água de coco em goles bem pequenos. Outro detalhe: o copo era o de
cafezinho. Não pode beber nada rápido. A alimentação é TOTALMENTE LÍQUIDA POR
RECOMENDAÇÃO MÉDICA, ALÉM DO SUPRIMENTO ALIMENTAR DE USO CONTÍNUO, que tem que
ser macerado. Não esqueça: nesta etapa da dieta, imediatamente após a cirurgia, os remédios são todos macerados, no mínimo de água
possível.
O
uso contínuo de suprimento alimentar, se deve ao fato de que na cirurgia há a
modificação do processo normal de digestão e absorção dos nutrientes. No meu
caso, a cirurgia fez uma conexão direta entre o estômago e a parte mais baixa
do intestino delgado. Após essa cirurgia o organismo não absorve grande parte
dos nutrientes necessários dos alimentos.
A DIETA LÍQUIDA – até
o 15º dia aproximadamente, o que geralmente o paciente pode beber é: Isotônicos, leite de soja diet, água
de coco, e água mineral (sem gás), Chá de ervas, suco de laranja ou maracujá
(diluído e coado) com adoçante – 50 ml a cada ½ hora, completando o volume de
200 ml. No Almoço e jantar: sopa liquidificada e coada, 50 ml a cada ½ hora,
completando o volume de 200 ml. A sopa é a água da sopa.
No
dia 13 de junho de 2011, voltamos para Araruama. Eu cheia de dor e ainda para
variar, pegamos um engarrafamento enorme na Rio-manilha. Nossa... foi a pior
viagem que já fiz na minha vida! Parecia que não chegava nunca!
O
pior do pós-operatório foi, com certeza, o remédio que tomava de manhã. Tinha
que ser macerado e com o mínimo de água possível. Gente, o remédio era
horrivelmente amargo. Eu chorava todos os dias na hora do remédio. Chorava
mesmo, não é exagero, não. Tinha ânsia de vômito e não sabia vomitar. Mas
aprendi rapidinho...Passava muito mal. Esse remédio era para cicatrização. Tomei
por 28 dias. Era muito ruim. Depois de duas semanas, mais ou menos, de
sofrimento, descobri que jogando o remédio lá dentro da garganta, o sabor de
amargo era “menos pior”. Então, passei a fazer isso, pegava aquela papa e
jogava lá dentro da garganta. Foi assim, que consegui tomar até o final.
Não
sei se vocês sabem, mas quando a gente não pode comer ou beber alguma coisa, é
que dá vontade. Me deu uma vontade louca de tomar mingau. Mas eu nunca liguei
para mingau!!! Kkk... Como eu perturbei por causa disso! Mas não podia e ponto
final. Mingau só depois de 30 dias que pude comer.
Com
06 (seis) dias de operada, pronta para dormir, meu filho me perguntou se eu
queria alguma coisa. Eu respondi que queria água. Ele me trouxe no copinho de
cafezinho (com água). Eu esqueci que não podia beber rápido e virei de uma só
vez aquele copinho d’água. Começou a me dar um mal-estar enorme, comecei a
reclamar que estava faltando ar. Meu marido não estava em casa, estava no trabalho.
Eu disse para o meu filho que havia algo errado que eu estava passando mal. Ele
me colocou no carro e me levou para o hospital, do jeito que eu estava. Lá meu
coração estava disparado, a pressão arterial alterada e segundo o médico eu
tive um refluxo com a água que tomei “rápido”, ou seja, de uma única vez.
Segundo ele, eu poderia ter broncoaspirado a própria água. Fui para o soro e me
colocaram de lado e eu comecei a vomitar e cuspir aquela água. Esse foi o
primeiro susto que passei!
Veja
bem, durante anos você está acostumado a comer e beber de certa maneira, e de repente tem que
REAPRENDER a beber e comer, tudo muito devagar e em poucas quantidades.
É
importante salientar que a pessoa que opera o estômago tem que “OPERAR” os
olhos também. A pessoa tem que se acostumar a ver muito pouca comida no prato e
“ACEITAR” que aquele pouquinho de comida irá “MATAR A FOME!” O gordo tem que
reaprender também a ver a comida com outro olhar. Tem que aprender que a comida
é um alimento e não fuga para os dores, frustações ou traumas. É indispensável
que o paciente saiba que se comer além do que o estômago pode aguentar, pode
estourar os grampos, levar a hemorragia, ao óbito. Na melhor das hipóteses, a
pessoa pode vomitar e sentir dores e com o tempo, se continuar comendo errado
pode voltar a engordar ou ter várias complicações pós-cirúrgica.
Com
01 (uma) semana de operada, você vai tirar o dreno.
Quanto
à limpeza/curativo no local dos corte é tranquilo. Água, sabão e álcool 70
graus.
Quando
a pessoa se dispõe a fazer uma cirurgia dessas, ela tem que ter muita força de
vontade.
Comer
com a família e os amigos, é um evento social, onde as pessoas se reúnem, batem
um bom papo, colocam as notícias e informações em dia, falam o que estão
fazendo, o que pretendem....enfim, e a comida, está ali no meio de tudo,
aproximando as pessoas. E como disse antes, na minha família, tudo acaba num
bom e velho churrasco. Eu estava no mês de junho, ainda tinha os dois maiores
eventos do ano natal e ano novo, e eu operadíssima! Mas sobrevivi. Não achei
tão ruim assim. Ficava triste por não poder comer as mesmas coisas, mas não
reclamava por aquilo que estava comendo.
DIETA PASTOSA – No
meu caso, tive muita dificuldade para ingressar na dieta pastosa. Só iniciei a
dieta pastosa aos 09 de setembro de 2011, ou seja, dois meses após a cirurgia. Tomei
uma canja. Parecia um manjar dos Deuses. Só bebendo aquela “água salgada”, por
tanto tempo é uma sensação muito agradável. Detalhe, a quantidade era de duas
colheres de sopa.
Depois
dessa refeição, todos os líquidos que tomava, vomitava. Eu achava que pudesse
ser por causa da mudança na dieta do líquido para o pastoso. Continuava a beber
e a comer e vomitava. Tentava beber água e vomitava. Tomava os remédios e
vomitava. Fiquei assim por 10 dias. Eu dormia com um balde d’água na beira da
cama e vomitava a noite inteira.
Na
terça-feira dia 12 de julho de 2011, fui ao médico. Ele me receitou um remédio
para refluxo.
O
remédio, de nada resolvia, porque eu tomava e vomitava. Assim permaneci até dia
19 de julho de 2011, quando fui parar no hospital, muito mal. Após todos os
esses dias tentando beber água ou comer e sem conseguir e vomitando direto,
cheguei ao ponto de não me aguentar de pé. Fraca e fraca. Muita sede e não
conseguia beber nem água que vomitava. Quando fui atendida na emergência, fui
colocada no soro, pois estava desidratada, e mesmo deitada, continuava
vomitando. A médica que me atendeu disse ao meu marido que iria chamar o
gastroenterologista que estava me acompanhando após a cirurgia de redução,
porque não era normal o que estava acontecendo.
Quando
o médico chegou, me levou para fazer uma endoscopia digestiva. Para quem nunca
fez esse exame, é colocado um anestésico na
garganta em forma de spray e te fazem uma sedação, geralmente o paciente
dorme durante o exame, já que é passado um tipo de mangueira com uma câmera na
ponta que entra pela sua boca, passa pela via digestiva, até chegar no
estômago. Como eu estava há mais de uma semana vomitando e muito fraca, o
médico optou por não me sedar, ou seja, me manteve acordada durante o exame.
Eu
queria ar para respirar e o médico com aquele cano dentro da minha boca e eu
vomitando ao mesmo tempo! Parece mentira, mas aconteceu! E ele falou assim para
o meu marido que estava na sala: “tem alguma coisa aqui, impedindo a passagem
dos alimentos, vou tentar tirar”. Neste meio tempo, como eu não conseguia falar
comecei a bater as pernas e pés, eu estava clamando de forma indireta que
parasse com aquilo, pois eu não estava aguentando mais. Foi então que o médico
disse: “ela está muito fraca, não vai aguentar, vamos para o centro cirúrgico”.
Quando
acordei no quarto, o médico veio com uma gaze e embrulhada nela estava um
pedaço minúsculo de cenoura, que não passou porque eu tive uma obstrução gástrica, ou estenose
da gastro-jejuno ou anastomose.
“Em Medicina, chama-se anastomose à comunicação, natural ou
resultante de processo cirúrgico, entre tubos, vasos sanguíneos ou nervos da
mesma natureza. Também é o nome que se dá a uma operação cirúrgica que promove a união de dois vasos sanguíneos, duas partes do tubo digestivo etc. Um exemplo de anastomose cirúrgica é a gastroenterostomia: uma
ligação, ou conexão entre o estômago e um segmento intestinal.”
Fiz
uma dilatação instrumental do duodeno.
No primeiro dia em que comi a canja, um pedaço de cenoura
não passou e eu fiquei literalmente “intalada.”
E quando há algum problema, o paciente operado de bariátrica tem que
voltar a dieta líquida, e recomeçar todo o processo. É isso aí, tive que
recomeçar na dieta líquida.
A minha sorte é que como eu disse
acima, nunca liguei muito para comida. Então consegui voltar e começar todo o
processo de novo.
Mas
não pense que foi fácil. Tinha momentos que queria comer algo sólido e não
podia, passei a colocar pedaço de carne na boca e a beber só o caldo e jogar a
carne fora. Quando minha família se reunia para comer eu bebia somente líquido
e caldos bem aguados. E assim foi por muitos meses.
Embora
após 30 dias depois da desobstrução a nutricionista tivesse me liberado para a
dieta pastosa, tive medo. Fiquei com medo de comer e passar por todo aquele
sofrimento de novo! Embora tivesse todo o apoio psicológico, não queria comer
comida pastosa e nem tampouco sólida.
Permaneci
por mais 08 meses me alimentando muito mal. Consequências: Anemia profunda,
infecção renal, queda acentuada de cabelo, falta de vitamina A, D e E, falta de
cálcio e potássio.
Em
relação à queda de cabelo, quando se é mulher é difícil vê-los cair aos montes,
ficar ralo e falhado. Então passei a ficar mais em casa e não sair. Percebi que
aquilo não estava me fazendo bem e o que eu poderia fazer para resolver. Então
implantei.
Como
emagreci muito, passei a não me reconhecer no espelho. Emagreci até agora, 01
ano e dois meses depois da cirurgia, 43 quilos, tive uma espécie de negação.
Olhava no espelho e não me reconhecia. Todos os elogios que recebia pareciam
uma ofensa. Quando as pessoas me diziam que eu estava bonita, eu pensava: então
antes, vocês me achavam feia? Lembrei do Jô Soares. Parece que ele não teve
estímulo para emagrecer, porque as pessoas só o reconheciam como gordo. Quando
fez uma dieta para emagrecer os amigos diziam que ele estava ficando estranho. Engraçado
que no meu caso, foi justamente o contrário, as pessoas me elogiavam, mas eu
não me aceitei magra. Olhava no espelho e comecei a ver ossos.
O
que me irritou foi o fato de me considerar uma gorda massuda. Não tinha a pele flácida
e caída. Agora, com a grande perda de peso começa a pele a ficar flácida e
mole. Parece mentira, mas tenho mais vergonha do meu corpo agora do que antes!
Vejam como essa cirurgia mexe com o psicológico da gente! Por isso é importante
e fundamental que a pessoa tenha o acompanhamento psicológico pós-cirúrgico por
pelo menos 02 anos. Mas nada que uma cirurgia plástica não possa resolver. Só
me falta a coragem!!!
Comecei
depois de 01 ANO, a comer feijão, macarrão, carne moída e linguiça. Não como
arroz regularmente, até tento, mas tem dia que não desce, nem como bife ou frango,
com frequência. Quando como tem que ser em pedaços bem pequenos e muito bem
mastigados... Mas consigo comer pipoca e batata frita! Mas é bem pouquinho e de
vez em quando, pelo menos isso!!!
Todo
dia é um novo recomeço. Ainda tenho medo de comer. Mesmo passados mais de 01
ano após a cirurgia, o trauma ficou. Todos os dias eu tenho que descobrir o que
posso comer.
O
que me levou a escrever contando de forma reduzida o que aconteceu comigo, foi
o fato de ouvir falar tantas coisas boas da cirurgia de redução de estômago, e
muito pouco do sofrimento que pode ocorrer aos pacientes que se submetem a este
procedimento cirúrgico. Nem tudo são glórias. Não é fácil. Várias vezes ouvi
falarem assim: “não sei como você está conseguindo ficar tanto tempo se
alimentando desta forma. Se fosse eu, não aguentaria...nunca faria essa
cirurgia...se tiver que ficar sem comer arroz e feijão eu morro...” O que se
pode fazer? O que não tem remédio remediado está.
Mas
o que mais me deixou triste, foi o fato de ter passado e ainda está passando
por muita privação e mudanças, e meus problemas de saúde não terem passado! A
coluna dói e os pés também. Estou em tratamento. Agora vou me tratar num
hospital especializado na dor crônica, no Rio de janeiro. Mas o que a gente tem
que passar não pode colocar na porta de ninguém! Não posso ficar muito tempo de
pé nem muito tempo sentada. Tenho dificuldade com calçados. Atualmente quando
tenho audiências ou compromissos no fórum só uso sapatos ortopédicos. Não posso
atuar na área de beleza, pois também estou impedida. Atualmente vivo para me
cuidar, tanto das doenças que já tinha antes da cirurgia, quanto as que adquiri
depois da cirurgia.
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